Após ser censurado pelo Facebook – com pena de exclusão da imagem postada e três dias de banimento da rede social e do messenger, seu aplicativo de mensagens, por postar uma obra de Michelangelo – , decidi fazer um teste: entrei em algumas páginas de direita e denunciei imagens e vídeos com nudez e sexo explícito, para ver se há justiça e imparcialidade nessas exclusões sumárias. Entre as páginas estão: Movimento Brasil Livre (MBL), Senador Magno Malta, Mamãe Falei e The Noite com Danilo Gentili.
Nas diretrizes de Zuckerberg consta que seus funcionários entrarão em contato com você, para saber das razões do seu conteúdo ter violado as normas; mas também consta que há apenas uma pequena chance do microblog responder seu apelo e reavaliar a decisão tomada. Eu não tive essa sorte até agora.
Fui julgado e condenado, porque os analistas do Facebook consideraram que o quadro continha nudez. Porém, segui o trecho de sua política sobre nudez, segundo o qual é proibido fotos que exibam órgãos genitais, ou com foco em bunda, e seios mostrando mamilo, mas é permitido nu artístico, como quadros e esculturas.
Como informou o site do Ativismo Protestante: “A gravura, pintada por Cornelis Bos, é um quadro que retrata uma mitologia grega, na qual Zeus é atraído por uma bela princesa, casada com um herdeiro de Esparta. Com medo de assustar a jovem com sua imagem gloriosa de Deus onipotente, Zeus se transforma em um exuberante cisne, para se aproximar discretamente dela e conseguir seduzi-la. Os dois se entrelaçam amorosamente e Leda dá à luz filhos. A cena tem diversas versões em forma de quadro, inclusive uma de Leonardo da Vinci. A imagem também é de domínio público, ou seja, não foram infringidos direitos autorais.“
O post, publicado na página do Ativismo Protestante, no dia 11 de setembro, era uma crítica ao encerramento da exposição LGBT no banco Santander, após forte pressão de movimentos conservadores e de extrema direita, como o MBL. O título do post era “Michelangelo zoófilo continua valendo né? “
A conclusão foi a esperada: a rede social de Mark Zuckerberg reflete as injustiças cometidas em nossa sociedade, com critérios parciais e duvidosos, os quais eles não divulgaram quais são, apesar da minha insistência em questionar. Em alguns casos, obras com cenas de sexo explícito foram consideradas dentro dos padrões da comunidade do Facebook. Confira os resultados:
Vídeo sobre a exposição QueerMuseu, do Santander Cultural, em Porto Alegre/RS
O vídeo foi gravado por Felipe Diehl, da Direita Gaúcha e Rafinha Bk e teve grande repercursão nas redes sociais. Assista ao vídeo abaixo.
Denúncia na página do MBL: Vídeo foi removido
Denúncia na página do senador Magno Malta: Vídeo foi removido
Vídeo com nudez do The Noite com Danilo Gentili
No vídeo, Danilo pergunta a Marcelo de Nóbrega o que rola no show “Proibidão da Praça”, surge um cara sem roupa e com a bunda de fora. Veja o vídeo abaixo, a partir de 05min06seg.
Nesse caso, o Facebook considerou que o vídeo não violava os padrões de sua comunidade, não foi removido.
Imagem da obra da exposição QueerMuseu, fechada pelo Santander Cultural
Também foi considerada dentro dos padrões da comunidade do Facebook, mesmo contendo cena de zoofilia e sexo grupal entre homens.
Denúncia na página Mamãe Falei: Imagem não foi removida
Denúncia na página do MBL: Imagem não foi removida
Fiz outras denúncias, obtive os mesmos resultados; ora o Facebook removendo, ora não removendo. Essas remoções seletivas, sem critérios transparentes e igualitários para todos, atrapalham a democracia e a liberdade de expressão, pois geram dúvidas e medo nos administradores de páginas. O que postar, como saberei se não serei bloqueado novamente, podendo inclusive ter o perfil na rede social banido para sempre? O Facebook não avisa com antecedência.
Espero que o miniblog melhore no trato das denúncias, ouvindo as duas partes envolvidas – denunciante e denunciado – antes de efetuar uma exclusão e aplicar uma penalidade. Também melhore na transparência dos critérios usados para analisar as denúncias. Outra coisa, a rede social precisa rever seus conceitos sobre o que é agressivo, em termos de pornografia. Uma obra de Michelangelo, Leonardo da Vinci, Salvador Dali e outros tantos, nunca pode ser objeto de censura.
*Osmar Carvalho é engenheiro, membro da Igreja Evangélica Assembleia de Deus Ministério do Belém em São Paulo e colaborador do Ativismo Protestante.
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