Ronilso Pacheco: Luther King foi morto por uma igreja branca, que ainda insiste em negar o racismo


Estudioso da Teologia Negra, Ronilso Pacheco lembra a igreja da importância da luta racial e social de Martin Luther King.


Publicado em 10/05/2019.

O teólogo Ronilso Pacheco. Reprodução de vídeo.

Para o teólogo Ronilso Pacheco, Martin Luther King foi assassinado não só por supremacistas brancos, como também por uma igreja branca, que ainda hoje insiste em negar a existência do racismo e esconder a luta social do pastor.

“O assassinato de Martin Luther King não foi apenas uma eliminação, mas também a tentativa de matar uma esperança. Martin Luther King não foi morto apenas pela supremacia branca nos Estados Unidos, também foi assassinado por uma igreja branca, que lá, assim como aqui, insiste em negar a existência do racismo e o legado da escravidão na formação da estrutura da sociedade, tanto estadunidense como brasileira” – afirma ele.

Ronilso vê uma tentativa das igrejas de mitificar a imagem do ativista negro, escondendo sua luta em defesa dos pobres e contra o racismo, o militarismo e o capitalismo, inclusive o abraçado pelas igrejas evangélicas:

“Assim como nos EUA, a imagem de Martin Luther King aqui é muitas vezes selecionada. Tentam mitificar o Martin Luther King do discurso ‘I have a dream’ e invisibilizar o de 1967, que faz duras críticas à guerra do Vietnã, ao militarismo, ao capitalismo e, pouco tempos antes de sua morte, quando ele levanta a campanha pelas pessoas pobres.”

Em sua visão, as mesmas forças que mataram o pastor batista também mataram Marielle Franco e outros defensores dos direitos humanos:

“As forças que mataram Martin Luther King também estão presentes nas mesmas forças, com o mesmo espírito, naquelas que mataram Marielle Franco, Dorothy Stang e Chico Mendes. Continuam matando profetas e profetisas, que não apenas denunciam a injustiça, mas inspiram pessoas a terem esperança, lutar e vencer.”

Ronilso, que é estudioso e referência em Teologia Negra no Brasil, termina lembrando da necessidade de as igrejas manterem a memória e o legado da luta  racial e social de King:

“A melhor memória é lembrar que a igreja tem um compromisso profético com a justiça. E em lugares com uma estrutura desigual, como a que nós temos, ela tem um compromisso com uma luta antirracista. Não pode deixar de fora um debate sério sobre a questão racial. Não à toa, historicamente, os grandes ídolos das nossas igrejas são quase sempre brancos e muito comedidos na sua denúncia da injustiça, em particular a do Estado.”

Assista ao vídeo abaixo.

Um comentário

  1. Concordo, precisamos ouvir nas igrejas mais sobre a promoção da igualdade racial e termos mais pastores negros comprometidos com a teologia negra principalmente nas zonas sul das cidades.

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